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Exclusão social: existe um papel para o BID?

K. Burke Dillon é vice-presidente executiva do BID desde 1998. Veio para o Banco depois de chefiar o Departamento Administrativo do Fundo Monetário Internacional. Antes disso, tinha dirigido as atividades do FMI em diversos países latino-americanos e foi representante do FMI em Moscou. Recentemente, ela conversou com BIDAmérica sobre o compromisso do BID com a eqüidade social e a inclusão.

BIDAmérica: O tema exclusão social faz parte da agenda do BID?

Dillon: Este assunto está na agenda do BID por muitas razões, mas para mim uma razão já seria suficiente: não se pode atacar a pobreza sem tocar também no problema do racismo. A erradicação da pobreza e o crescimento são os objetivos principais desta organização. Não seremos capazes de atingir essas metas sem nos dedicarmos à questão do racismo na região.

BIDAmérica: A senhora acha que os governos estão prontos para atacar os problemas da discriminação étnica e cultural?

Dillon: Totalmente. Os governos são receptivos. Querem trabalhar conosco. De certa forma, eles também são iniciantes na matéria. Por outro lado, alguns governos estão muito à nossa frente. Num contexto de ajuda mútua através da troca de experiências, compartilhando as melhores práticas, o BID pode representar um auxílio importante.

BIDAmérica: Qual seria a contribuição mais eficaz do BID nessa área?

Dillon: O Banco não pode fazer tudo, mas existem várias coisas nas quais podemos nos concentrar. Em primeiro lugar, informação. Depois de conversar com grupos de índios e descendentes de africanos, estou certa de que eles acham muito importante ter uma visão estatística da situação de seus grupos dentro do país. Uma segunda atividade ou tema seria a capacitação institucional. Estou muito bem impressionada com o que vem sendo feito pelo Programa para a Juventude e o Indes (Instituto Interamericano para o Desenvolvimento Social) em termos de capacitação institucional. Eu gostaria de ver o BID esforçando-se para ser um modelo de como trabalhar com comunidades indígenas e afro-latinas. Proponho a nossos funcionários fazerem disto uma meta do nosso trabalho: encontrar o melhor processo participativo, buscar e obter as opiniões de nosso público alvo.

BIDAmérica: Seria possível destacar alguma área em particular onde o BID poderia ter um impacto maior quando tratar da exclusão social?

Dillon: Tivemos um importante seminário interno, em janeiro passado, que tratou dessa questão. Concluímos que uma área de vantagem relativa do BID é a educação. Sabemos que apenas educação não é o suficiente, mas é essencial. Educação bilíngüe e multicultural são particularmente importantes. Esta é uma área na qual podemos trabalhar com diversos países.

Uma segunda área onde pensamos que o BID poderia concentrar-se são os sistemas judiciários. Nossos países membros valorizam o fato de o BID ser capaz de tratar assuntos sensíveis e assuntos que necessitam muito de capacitação institucional. Por exemplo, controle da violência, perfil racial, reforma do sistema judiciário – até que ponto os sistemas judiciários nacionais reconhecem os conceitos de justiça de suas diferentes culturas – seriam áreas que poderíamos trabalhar. Podemos trabalhar mais os assuntos relacionados à conscientização racial no nosso diálogo com países nessas áreas.

BIDAmérica: O Banco está equipado para atuar como agente de inclusão social?

Dillon: Boa parte da discussão sobre como lidar com minorias étnicas e raciais é em termos de "nós" e "eles". Existe o "todos nós" e ainda aqueles grupos com os quais temos que aprender a trabalhar. Nós realmente precisamos ter mais indígenas e descendentes de africanos entre nossos funcionários, para que suas perspectivas sejam internalizadas. Enquanto isso, porém, todos teremos que aprender o que estas comunidades têm a nos ensinar sobre as causas da pobreza e as soluções para ela, dentro de suas circunstâncias específicas. Nós temos os recursos e as ferramentas para disseminar idéias e informação, mas acho que são eles que saberão apontar as soluções.

BIDAmérica: Quais são os principais desafios enfrentados hoje?

Dillon: Os preparativos para a Conferência das Nações Unidas sobre Racismo deram a nós e aos nossos governos a oportunidade de enfocar a exclusão social e econômica. O objetivo não foi somente chegar à Conferência, mas sim usar estes eventos para criar uma base para que isto faça parte do nosso trabalho institucional. Nós aqui no BID desenvolvemos um Plano de Ação para a Exclusão Social. Se pudermos alcançar as metas que estabelecemos para nós mesmos no Plano e nas reuniões preparatórias para a Conferência, isto demonstrará que temos um compromisso realmente sério de acabar com a exclusão social e econômica.

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