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O desafio dos contadores

Normas contábeis frouxas e flexíveis podem ser tentadoras para os que procuram fugir das garras do fisco. Mas para as economias latino-americanas e caribenhas como um todo, os custos dessa contabilidade permissiva são elevados. A região é forçada a pagar um ágio sobre o custo do capital pelo fato de as normas contábeis usadas pelos governos e companhias locais se encontrarem abaixo dos padrões internacionalmente aceitos, de acordo com os investidores e os peritos em contabilidade que compareceram a uma recente conferência na sede do BID em Washington, D.C. Como conseqüat;ência, a região corre o risco de ser deixada à margem dos fluxos internacionais de capitais enquanto as suas normas não melhorarem, advertiram.

Os países no mundo todo estão optando por uma maior divulgação dos resultados financeiros e por normas contábeis mais rígidas e uniformes. Uma das razões é que, na economia global, as normas universais estão fornecendo uma linguagem financeira comum para contadores, investidores e reguladores. Regras mais rígidas também reduzem o risco de pânicos financeiros e de falências de empresas e bancos.

Embora concordando com a necessidade de mudança, alguns reguladores latino-americanos presentes na conferência chamaram a atenção para o fato de que o aperto das normas acarretará custos elevados, que devem ser pesados contra os benefícios de um regime regulador mais duro. Alguns dos palestrantes previram resistência por parte de companhias que temem que um aumento na divulgação de seus resultados resulte em impostos maiores.

Os críticos dos atuais padrões permissivos da América Latina, inclusive analistas do setor privado, apontaram para vários problemas. Alguns são de importância menor, como a lentidão em fornecer dados e a falta de endereços eletrônicos e números telefônicos na Internet. Entre as falhas mais graves estão a ausência de informações financeiras necessárias e normas contábeis confusas e diferentes no mesmo país.

As economistas do BID Kim B. Staking e Alison Schulz alertaram para o fato de que, a menos que melhore sua divulgação financeira e suas normas contábeis, a região ficará em "desvantagem comparativa no acesso ao capital e será forçada a pagar preços elevados". Essa desvantagem será sentida sobretudo pelas pequenas e médias empresas; as grandes companhias são mais inclinadas a adotar normas internacionais para poder levantar capital nos mercados mobiliários europeus e norte-americanos.

Staking e Schulz afirmaram que o BID está pronto para financiar programas que ajudem as firmas menores a fazer a transição.

Muitas das grandes companhias latino-americanas adotam hoje as Generally Accepted Accounting Practices (GAAP) dos Estados Unidos (regras contábeis geralmente aceitas), porque são uma das condições para o registro nas bolsas de valores norte-americanas. Algumas firmas européias também usam as normas GAAP.

Enquanto isso, a Comissão de Normas Contábeis Internacionais está desenvolvendo o seu próprio conjunto de regras para o mundo todo. Durante a conferência, o secretário geral da Comissão, Sir Bryan Carsberg, prometeu que as novas normas serão duras, inflexíveis e uniformes. "Elas poderão doer nas empresas acostumadas à flexibilidade", advertiu. Mas afirmou que o movimento rumo a regras estritas é "irreversível" devido ao contexto cada vez mais internacionalizado em que os negócios são realizados.
 

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