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As lições do bug do milênio

Como será lembrado o "bug do milênio"? Como um exemplo de sensacionalismo da imprensa ou um fracasso de proporções épicas na preparação para desastres?

Nas últimas semanas de 1999, abundavam previsões contraditórias sobre o tão antecipado problema com os softwares de computadores. Mas uma coisa era clara: mesmo que nada acontecesse em 1 de janeiro, 2000, consertar o problema do bug do milênio foi um dos investimentos em infra-estrutura mais caros da história.Ao contrário de outros projetos de infra-estrutura, porém, este não deixará nenhum legado visível; na melhor das hipóteses, só preservará as coisas como elas eram.

Embora dificilmente se venham a conhecer as cifras precisas, especialistas da indústria de software estimam que governos e empresas gastaram centenas de bilhões de dólares no mundo todo para garantir que seus computadores continuassem a funcionar adequadamente quando os códigos de data com dois dígitos passassem de "99" para "00" logo depois da meia-noite do dia 31 de dezembro. É difícil acreditar nessas cifras, mas o BID mesmo fornece um exemplo. Com menos de 2.500 empregados, o Banco é uma instituição pequena para os padrões comerciais; no entanto, precisou gastar US$17 milhões para preparar seus sistemas de computadores, telecomunicações e infra-estrutura. Grandes bancos comerciais multinacionais registraram gastos da ordem de US$200 milhões a US$600 milhões cada.

Embora os gastos na América Latina e no Caribe tenham sido modestos comparados aos da Europa e Estados Unidos, ainda assim foram significativos. Lee Tablewski, assistente de pesquisa sênior do Centro Norte-Sul da Universidade de Miami, está acompanhando há vários anos o fenômeno do bug do milênio. Baseado em entrevistas pessoais com os coordenadores nacionais dos programas que tratam do bug do milênio nos oito países do gráfico ao lado, Tablewski estima que a região gastou pelo menos US$15 bilhões com os preparativos.

Boa parte desse dinheiro foi paga a consultores e fabricantes de software especializado encarregados da tarefa entediante de esquadrinhar os programas de computador em busca de códigos de data errados, corrigi-los e testá-los. Em vez de corrigir programas antiquados, porém, muitas empresas e organizações optaram por resolver o problema do bug do milênio simplesmente comprando novos computadores e programas com garantia de sobreviver à mudança de data. Nesse sentido, a crise do milênio pode ter tido um aspecto positivo. "Não há dúvida de que ajudou a modernizar a infra-estrutura de organizações que planejaram com antecedência", diz Ricardo Miranda, coordenador das atividades do BID relativas ao bug do milênio.

Miranda também acredita que o problema será lembrado como uma bênção disfarçada porque forçou empresas e governos a reconhecer sua interdependência e pensar seriamente a respeito de prevenção de desastres e planos de contingência em geral. "Há certas redes, como as que controlam telefones e tráfego aéreo, que são intrinsecamente globais", diz ele. "Todos os países que fazem parte da rede precisam estar preparados. Mas o bug do milênio mostrou também que em muitas áreas não estamos preparados para responder rapidamente a crises graves. Não tínhamos nem 1% dos planos de contingência que precisávamos ter para essas coisas. Agora estamos um pouco melhores, o que é um resultado positivo."

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