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Barreiras ao comércio digital

Imagine um pequeno fabricante de pratos de cerâmica pintados dos Estados Unidos que acabou de fechar uma venda importante para um varejista de artigos domésticos na Inglaterra. A negociação exigiu cinco chamadas telefônicas para Londres, cada uma com a duração de quatro minutos, que custaram ao fabricante US$5,40.

Na Cidade do México, outro fabricante de cerâmica também está tentando penetrar no mercado varejista de Londres. Mas pelas mesmas chamadas de longa distância o concorrente mexicano pagará US$25,20. Do Peru, as chamadas custarão US$31,20; da Bolívia, US$43,60; e da Venezuela, US$53,60 -- quase dez vezes a tarifa norte-americana.

Diante desses custos, muitas das pequenas empresas latino-americanas provavelmente farão menos chamadas a clientes em potencial no estrangeiro, com o risco de perder negócios para concorrentes de países que têm tarifas telefônicas menores. Esses números, compilados em um estudo recente de Philip Peters, membro sênior da Alexis de Tocqueville Institution (ADTI) de Arlington, Virgínia, lançou luz sobre um aspecto da competitividade que muitas vezes é eclipsado por discussões sobre salários, educação e regimes tarifários. As elevadas tarifas telefônicas sempre pesaram nos custos operacionais das empresas e inibiram relações com clientes estrangeiros. Agora, elas estão limitando também o acesso das pessoas à Internet, um meio que se tornou um recurso essencial de informações profissionais e comerciais.

Quase todos os governos da região tomaram medidas para melhorar o serviço telefônico e abaixar as tarifas. Muitos o fizeram por meio da privatização, ou de planos para a privatização, das companhias telefônicas de propriedade do governo e do estabelecimento de cronogramas para a introdução da concorrência no setor. Há dois anos atrás, 20 dos países da região assinaram o acordo de 1997 da Organização Mundial do Comércio sobre serviços básicos de telecomunicações, que obriga os signatários a abrir os seus mercados de telecomunicações.

Do ponto de vista do consumidor, essas medidas produziram resultados mistos. De um lado, o estudo da ADTI mostra que as tarifas para as chamadas internas, medidas em função do dólar, estão em média 34% mais baratas na América Latina e no Caribe do que nos Estados Unidos. Essa diferença é relativa, naturalmente, porque a renda per capita dos países em desenvolvimento da amostra da ADTI é uma pequena fração do nível norte-americano. De acordo com Peters, as tarifas internas mais baixas são parcialmente explicadas pela prática difusa de subsidiar o serviço local com a receita do serviço mais lucrativo de longa distância (nacional e internacional). No Chile, no México e na Argentina, países que passaram pelo "reequilíbrio tarifário", ou processo de eliminar esses subsídios cruzados, as chamadas locais são tão ou muito mais caras do que nos Estados Unidos.

Mas para pessoas que usam intensamente o telefone, que fazem chamadas para o exterior e acessam a Internet de casa, a América Latina não é um bom lugar para se morar. O gráfico ao lado mostra os preços médios para 1.500 minutos de chamadas locais, 240 minutos de chamadas internas de longa distância, cinco chamadas de quatro minutos para Londres e 30 horas de acesso à Internet. Nos Estados Unidos, os consumidores teriam tudo isso por US$78,97 -- menos do que um terço daquilo que os clientes de 17 países latino-americanos e caribenhos pagariam.

O serviço de acesso à Internet, em particular, é muito mais caro na América Latina do que nos EUA, onde a tarifa média mensal por uso ilimitado é de menos de US$20. Enquanto os assinantes nos Estados Unidos pagam uma baixa tarifa linear pelas chamadas internas que usam para se conectar com a Internet, na maioria dos países latino-americanos as chamadas locais são cobradas por minuto, custo que os usuários devem suportar além das taxas da Internet. De acordo com um relatório de setembro baseado em pesquisa realizada nos países pela IDC Latin America, empresa norte-americana de levantamento de mercado, "os custos básicos de telefonia continuam sendo o maior inibidor do crescimento do uso da Internet na América Latina".
 

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