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Lembrem-se do navio Vasa

A seguir, uma versão abreviada do discurso pronunciado por Pierre Schori, ministro sueco de cooperação para o desenvolvimento, durante a reunião de maio em Estocolmo do Grupo Consultivo para a Reconstrução e Transformação da América Central. O discurso foi pronunciado no novo museu que abriga o Vasa, um navio de 371 anos.

Vasa, o mais moderno navio de guerra sueco de seu tempo, afundou no começo de sua viagem inaugural em 1628. Perante uma multidão de espectadores, o navio deixou o cais em sua primeira e única viagem, passou em frente ao palácio Real de Estocolmo e lançou salvas de tiros de seus canhões novos em folha. Depois, sem que tivesse navegado nem 1.300 metros, uma rajada de vento forte fez com que o navio adernasse para um bordo e a água começou a entrar pelas escotilhas dos canhões. O Vasa afundou a menos de um quilômetro de onde estamos agora.

Quem foi o responsável pela catástrofe? Embora tivesse sido formada uma comissão real para investigar o desastre, a parte culpada nunca foi identificada. Na verdade, o Vasa era um navio desproporcionado. Depois que afundou, o mestre-de-obras disse que tinha testado a estabilidade da embarcação antes do lançamento fazendo com que 30 homens atravessassem correndo o deque de bombordo a estibordo. A terceira vez que o fizeram, o navio adernou tão fortemente para um lado que tiveram que interrromper o teste com medo que afundasse.

A resposta lógica seria cancelar a viagem. Mas quem daria a ordem? Um almirante muito influente comentou: "Se Sua Majestade pelo menos estivesse aqui!" Mas o rei Gustav II Adolph, que havia ordenado a construção do navio, estava nesse momento liderando seu exército em guerra com a Pr

Não precisamos exagerar para encontrar paralelos em nossos tempos. Um paralelo pode ser a necessidade de maior transparência após desastres. Outro seria a importância da responsabilidade e da descentralização do poder decisório. O Vasa talvez não tivesse se perdido se as autoridades de médio escalão e os profissionais tivessem o poder de cancelar a viagem inaugural quando descobriram que o navio não era bem construído. Uma fiscalização mais prudente do orçamento público e maior transparência nas despesas públicas provavelmente teriam interrompido a construção dessa embarcação instável.

Não se pode reescrever a história, mas podemos aprender com as lições que a história nos ensina. José Eduardo Gauggel, presidente do Tribunal de Justiça da América Central, falou da necessidade da transparência e da boa gestão dos negócios públicos no processo de reconstrução e transformação depois da devastação causada pelo furacão Mitch. Tem-se discutido muito a importância da descentralização e do fortalecimento dos governos locais e da redução da vulnerabilidade ambiental e social.

Há 12 anos, a América Central tinha chegado a uma conjuntura crítica. Depois de ter vivido décadas de guerras, ditaduras e subdesenvolvimento, os cinco presidentes da região encontraram-se em Esquipulas, Guatemala, sob a liderança de Oscar Arias, presidente da Costa Rica na época. Ali, concordaram com uma plataforma regional conjunta baseada na solução pacífica de conflitos, democracia, direitos humanos e luta contra a pobreza. Em sua declaração conjunta, os presidentes disseram que tinham encontrado uma solução para alcançar a paz, mas precisavam do apoio do resto do mundo para colocar seus objetivos em prática.

Desde então, os progressos foram muitos. A paz foi alcançada em toda a América Central, todos os países adotaram sistemas democráticos de governo e suas economias estão caminhando para a frente. Mas isso foi antes da terrível catástrofe do furacão Mitch.

Hoje, a América Central encontra-se novamente num momento decisivo. Assim como o encontro dos presidentes em Esquipulas pediu a ajuda do resto do mundo para alcançar uma paz sustentável, seus sucessores hoje estão recorrendo à comunidade internacional para reconstruir e transformar a América Central. Dados os progressos feitos até agora, temos razão para ser otimistas sobre nossa capacidade de responder aos desafios do futuro.

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